Encontrava-me deitada em minha cama composta por dois colchões de solteiro, largados despojadamente no chão de tacos velhos do meu quarto. Ela entra bruscamente e pára na minha frente. Lentamente, vai escorregando pela porta do guarda-roupas em direção ao chão. Tira a blusa. Seus seios castanhos dourados me convidam para participar de algum deleite sexual, do tipo orgia, do tipo doutor pintão – como ela o costumava chamar, ou do tipo “hoje eu sei o que eu quero fazer com você porque quero gozar”.
Entra você, o terceiro.
Um garotão ainda, metido com pouca sabedoria. Poderia ser o primeiro se soubesse aproveitar todos os seus atributos. O sexo a três não é algo convencional, para apreciá-lo com o requinte que se exige é preciso maturidade. Você chegou e me bateu com a força de domar um animal, porém com o jeito de um guri despreparado. Ora, consideremos todas as titulações e menções honrosas de nossa memória, porém, é assim que você quer começar? Nem preparamos os acordos de nossa relação. Acho que é cedo demais para pensarmos em negociar.
Corto o tesão voluptuoso e precoce do menino que ainda sonha com os pais.
Ao mesmo tempo, você minha pequena criança açucarada. Suas perninhas bem abertas me fazem ir ao céu. Sua reboladinha safada, sua xotinha molhada, lactante. Eu bem sei o que é ter um pau. Melhor seria se fosse para mim que você rebolava.
Eu ouvia um bom jazz como de costume e não tinha pretensão de voltar a escrever tão cedo, mas as coisas que vivi nos últimos dias me fizeram ter vontade de tirar fogo das teclas do laptop novamente. Como é bom voltar aos velhos tempos! Gosto da vida assim, descolada, narrando minhas histórias com a cara deslavada, gosto de deixar a vida toda bela, toda enfeitada. É preciso saber o que se quer: para mim um pouco de jazz, uns cigarros malditos e muita fodeção. Essa coisa de viver emaconhada está me deixando assim.
Hoje o encontro foi do tipo “blind date”, o quer dizer que não conhecíamos as figuras do jogo. É estranho sentir-se o dono do mundo. No fim das contas o show não deveria nem ter começado. O final da brisa na mente, a baixa adrenalina, o desconforto, o frio da solidão deixa todo mundo meio passado.
No final das contas, a feiura da vida é um pênis ensanguentado, um dildo apartado de um corpo, uma atuação sem ensaio.
Corações gelados, facas nas costas, gargantas esfoladas, fim das carteiras de cigarro. Estamos vivendo tempos ruins.
A coisa mais linda nisso tudo é você minha pequena, que nunca me decepciona com esse seu jeitinho de rebolar, poderia estragar todas as minhas tardes de estudo, todos os dias de minha vida.
A prática do voyeurismo é antiga e requer um certo requinte para a sua contemplação. Aos apreciadores mais experientes das artes corporais, esta forma de manifestação artística do corpo compõem uma peça num complexo arranjo de afecções cujo ponto máximo é a manifestação do orgasmo, o qual por si só, é o esgotamento e o aniquilamento do desejo (de se afetar).
Ponto G. Ejaculação. Escoamento de fluídos. Desaceleramento do coração. Respiração profunda. Êxtase. Dormência dos sentidos e da razão. Finito. Morte sem dor. Pausa.
…
Como é bom se esgotar em você minha novinha.